Tempos de colaboração, de troca de experiências, informações, aprendizados e, claro, conteúdos. Dos mais diversos, nas mais diferentes mídias, sobre praticamente todo e qualquer tema, a toda hora. Viva a diversidade e pluralidade!
Tudo bem bacana, exceto aqueles absurdos com os quais tropeçamos dia sim outro também. Penso haver uma distinção entre um conteúdo fruto de uma pesquisa, com embasamento e apresentado de maneira estruturada e a emissão de uma opinião, de um palpite. São coisas diferentes.
O que vejo bastante são os famosos vídeos ou posts de “Como XXXX em XXXX passos” – “Os segredos da/o XXXXXX agora revelado” e coisas assim. É claro que a intenção é normalmente das melhores, porém o que me deixa em diversas ocasiões incomodado é mais a narrativa, construída a partir de suposições, generalidades e superficialidades. Desta forma, chamo sua atenção para observar quantas vezes você ouvir: “É comum as empresas XXXXXXX…”, “Muitas vezes (esse é o melhor) pensa-se X mas acontece Y….”, “Voce PRECISA XXXXXXXXX se quiser alcançar XXXXXXXXX”, além é claro das apropriações indébitas de frases de impacto de algum autor, que servem quase que como um coringa em um discurso normalmente vazio. Nesta esteira, toma-se emprestado também algumas afirmações e terminologias próprias de outras ciências para, de forma totalmente fora de contexto, dar um glamour maior ao pobre conteúdo. A coitada da mecânica quântica que o diga.
Trago esse dilema para mim, claro. Não me excluo do contexto que trago acima, e me policio continuamente para ter ao menos um mínimo de relevância nos conteúdos que apresento, na grande maioria expressão de um ponto de vista, uma crítica ou análise, nada muito além disso. Se por um lado este não seja um ambiente acadêmico (este = mídias sociais), por outro lado demanda-se por alguma profundidade nos temas abordados, e com isso ficamos no meio do caminho entre propor algo mais complexo a algo mais prático, e esse distanciamento abre espaço para praticamente qualquer coisa, pois a auto regulação é praticamente impossível quando não se dispõe de uma curadoria. Eu sinceramente sinto falta dessa figura, tanto para aquilo que produzo quanto para aquilo que leio.
Sim, também sinto falta das referências e origens de tantas informações e afirmações que vejo e leio. De onde as pessoas tiram tantas certezas, sem ao menos levar em consideração a individualidade tanto do sujeito quanto do ambiente corporativo? Como podem ser tão assertivos de forma tão segura e abrangente, sem muitas vezes (olha ele ai) ter tido a menor vivência com o tema abordado? Esses espaços democráticos exigem responsabilidade mútua, pois tanto aquele que escreve quanto aquele que consome os conteúdos precisam praticar seu senso crítico, afinal é a janela que temos para nos expormos de forma consistente. É uma grande oportunidade que temos de argumentar, questionar, concordar ou não, tudo de forma civilizada e construtiva. Esse mesmo modelo pode ser compreendido como sustentáculo das relações internas e externas das organizações. Pessoas pedem, reclamam, questionam, tem expectativas (e frustrações) a todo instante.
Sempre que me deparo com as receitas, sinto que perdi alguma aula, seja da vida ou da escola. Como nunca pensei naquilo? Bastava-me seguir aquele roteiro e ……..abracadabra. A coisa toda se resolveria. Mas eu não. Eu tentei aprender, descobrir novos caminhos, buscar por alternativas, buscar ajuda, errar. E com isso, perdi tempo, segundo a lógica constante da produtividade linear. Contrapõe-se por exemplo ao desejo de desenvolvermos empresas criativas e inovadoras. A praticamente imposição dessas receitas, colocadas com tanta obviedade e volume, é por si só a maior inimiga do anseio e discurso de se ter ambientes colaborativos.
Parece um contra senso, mas o fato de termos hoje tanta oferta de conteúdo não se concretiza como elemento impulsionador daquilo que esses conteúdos tanto apregoam. Seu efeito é contrário, não pelo volume, senão por sua natureza e consistência – ou falta dela.
Muito obrigado por sua leitura. Espero não ter te decepcionado 🙂