Vamos começar pelo meio. Vou fazer uso do meu habitual atrevimento e me apropriar momentaneamente do conceito da autopoiese, que resumidamente se define assim:
“A autopoiese é um conceito proposto pelos biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela para descrever a capacidade de um sistema vivo em se autorregular e se auto-organizar, mantendo sua integridade e identidade ao longo do tempo. De acordo com essa teoria, os seres vivos são sistemas fechados que produzem a si mesmos continuamente, através de processos de interação e transformação de seus componentes internos e do ambiente externo. Esses processos são regulados por mecanismos internos de feedback, que garantem a manutenção da estrutura e do funcionamento do sistema como um todo. Em resumo, a autopoiese se refere à capacidade de um sistema vivo em produzir a si mesmo e manter sua identidade através de interações e transformações constantes. (*)”
(*) Texto extraído da Internet, de domínio público
Também com a ajuda do Dr. Google, temos uma definição possível para o que seja longlife learning:
O conceito de “longlife learning” (ou “aprendizado ao longo da vida”, em português) se refere à prática de buscar constantemente novos conhecimentos e habilidades ao longo de toda a vida, independentemente da idade ou estágio de carreira.
Essa abordagem enfatiza a importância de aprender continuamente para se manter atualizado e adaptado às mudanças na sociedade e no mercado de trabalho. Isso pode incluir a busca por novas habilidades profissionais, o aprendizado de novos idiomas, a aquisição de conhecimentos sobre assuntos de interesse pessoal ou a busca por novas experiências culturais.
Em resumo, o “longlife learning” é uma filosofia que enfatiza a aprendizagem contínua e ao longo da vida como uma ferramenta essencial para o desenvolvimento pessoal e profissional.
E o que esses dois conceitos tem a ver com a liderança atual? Esse é o ponto que trago aqui. Ao observarmos as definições acima, e ao aceitá-las como adequadas (como falei, estou fazendo uso desses conceitos que tem por si só uma aplicabilidade muito maior. Peço licença aos especialistas nos temas) estabelecemos uma conexão entre as demandas de mercado, suas constantes, inéditas e intensas mudanças e ao que temos como histórico profissional, ao nosso repertório.
Práticas “antigas” nos desafiam a todo instante. Colocam-nos diante de nossas limitações que forçosamente somos obrigados a encarar e a compreendê-las. “O que nos trouxe até aqui não vai nos levar adiante” – Um chavão bastante comum, porém de certa forma válido.
É preciso partir da compreensão de que vivemos aquilo que criamos. Somos criadores e criatura, estamos envoltos em um ecossistema que sistematicamente condenamos, sem nos darmos conta de que é dele que surgimos, e é ele que construímos. Fica o desafio de encararmos essa provocação, e a reconsiderarmos a forma como temos conduzido não apenas nossos negócios e times, mas a nós mesmos. A máxima de que “a culpa está sempre no outro” precisa dar espaço para que possamos identificar qual é ou qual foi nossa parte para que aquele contexto exista.
Por fim, o longlife learning – aprendizado contínuo – mostra-se como um caminho impositivo para que possamos ampliar nosso repertório e com ele reconstruirmos aquilo que observamos como inadequado. O ponto de partida é justamente a observador, o autoconhecimento e a genuína vontade de ser protagonista na criação do mundo que queremos, seja ele o corporativo, o familiar, ou qualquer outra estrutura social.
Como proposto pela autopoiese, as interações do ponto de vista biológico são constantes e transformadoras, o que inclui o indivíduo que gera essa transformação. Ele interage com ele mesmo ao mesmo tempo em que cria o próprio ambiente do qual se apropria.
Nas minhas mentorias executivas tenho provocado essa reflexão aos líderes e aos executivos, o que tem chamado a atenção para o autoconhecimento e para o protagonismo, gerando profundas mudanças em todo a organização
Vale lembrar que a noção de autopoiese já ultrapassou em muito o domínio da biologia. Hoje ela é utilizada em campos tão diversos como a sociologia, a psicoterapia, a administração, a antropologia, a cultura…
Peço a sua contribuição: Essa associação que proponho agora, te parece coerente? Qual caminho seguir?
Obrigado pela leitura!
Veja mais em https://robertocarvalho.net/autoconhecimento-o-que-vem-depois/