Inovação e o viés psicológico – Qual a relação?

Sempre falamos que inovar é preciso, uma obrigação, praticamente. Sem inovação, empresas são “atropeladas” e morrem de inanição. Entretanto, mudar é um desprendimento enorme de esforços, que demanda por ação conjunta e coordenada, especialmente quando tratamos dos cenários corporativos.

Empresas tem, em sua grande maioria, uma estrutura funcional sob a qual todos se submetem e criam uma lógica de funcionamento. E esta lógica, esta combinação de fatores como cultura organizacional, tamanho, geografia, estratégia e posicionamento da empresa (ente outros) resulta em códigos de conduta que nem sempre estão alinhados aos desejos da organização. É o famoso “discurso para um lado, prática para outro”. Como você vê a sua empresa, neste momento, sob esta ótica?

Voltando a inovação, temos então que por um lado ela seja “obrigatória”,  por outro entendemos que ela necessariamente passa e permeia a organização, sua estrutura, seus códigos internos e obviamente pelas pessoas.

E é aqui que entra o tal viés psicológico que venho tratar com vocês. Aos nos propormos a adoção da inovação como um dos pilares de nossa gestão, como algo estratégico, contínuo e perene, precisamos oferecer mecanismos e dinâmicas que nos tirem do lugar comum.

Ainda que as estruturas estejam definidas e que digam quem é quem, ela ainda mantém todos dentro do mesmo barco, e todos olhando para o mesmo horizonte.

E aqui entra o viés psicológico, chamado de fixação funcional — que induz a pessoa a ver um objeto, um modelo, uma forma, uma prática somente da forma como o histórico lhe mostra, conforme a tradição (e claro sua limitação de percepção).

No meu texto anterior, citei o exemplo do Titanic e do iceberg. Evidentemente que um iceberg é um perigo a ser evitado. E não é aconselhável desconsiderar isso. Entretanto, quando se trata de inovação, recomenda-se observar de que os negócios estão constantemente sujeitos à fixação funcional e a outros vieses cognitivos que levam as pessoas a ignorar as soluções inovadoras que saltam à vista.

Tony McCaffrey e Jim Pearson concluíram em 2015 um trabalho de anos de pesquisa investigando como designs criativos podem ser criados explorando a forca do que normalmente é ignorado. Identificaram técnicas e ferramentas para ajudar a superar armadilhas cognitivas e resolver problemas de formas inovadoras — seja concebendo um novo produto, descobrindo novas aplicações para produtos existentes ou prevendo antecipadamente ameaças competitivas.

Usar as ferramentas não requer talento especial nem níveis extremos de criatividade.

Os autores identificaram três barreiras cognitivas a que se destinam, para entender como as ferramentas funcionam:

Fonte: (http://hbrbr.com.br/wp-content/uploads/2015/12/018.jpg)

Nos anos 1930, o psicólogo alemão Karl Duncker demonstrou o fenômeno da fixação funcional com um enigma famoso. Ele entregou aos participantes uma vela, uma caixa de tachinhas e uma caixa de fósforos e pediu-lhes que encontrassem uma forma de prender a vela na parede de forma que quando ela estivesse acesa não pingasse cera no chão. Várias pessoas tiveram muita dificuldade para imaginar que a resposta seria esvaziar a caixa de tachinhas, fixar a vela dentro da caixa com cera derretida e depois prender a caixa na parede.

O que causa a fixação funcional? Quando vemos um objeto comum, automaticamente eliminamos o conhecimento de aspectos que não são importantes para seu uso. Esta é uma tática neurológica que funciona no dia a dia, mas é um empecilho para a inovação.

A questão posta aqui é: Como então podemos contornar a fixação, de maneira que o time, a empresa, possam ter processos criativos, ainda que estejam circundados por informações fixas, estáticas ou mesmo históricas. Como desconstruir uma concepção firme em direção ao novo, inédito? Os autores deste estudo apontam uma alternativa:

E como lidar com o erro?

Neste artigo trouxe a primeira barreira cognitiva. No próximo vou abordar a fixação por objetivos.

Fique ligado, acompanhe os posts. O estudo em referência pode ser acessado aqui

Obrigado por sua leitura !

Leia também: https://robertocarvalho.net/voce-se-acha-realmente-inovador/

Este post tem um comentário

  1. Sandra Regina

    Ótimo Roberto!

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