ESG tem sido uma das siglas mais faladas, escritas, lidas e comentadas nos últimos tempos. Caiu em evidência, e agora arrasta outras tantas, como diversidade, inclusão, pertencimento, responsabilidade social, responsabilidade ecológica, e por ai vai.
O termo foi cunhado em 2004 em resposta a uma provocação do secretário-geral da ONU Kofi Annan a 50 CEO’s de grandes instituições financeiras, sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais. Kofi tinha como objetivo encorajar o diálogo entre empresas, governos e a sociedade civil, com o propósito de buscar o desenvolvimento sustentável de um mercado global mais justo e inclusivo. Foi então, em uma publicação do Pacto Global em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins (Ganha quem se importa, em tradução livre) que o termo surgiu. Faz, portanto, 17 anos.
Veja que para nossos tempos, ESG é um termo já “antigo” e que nesta ótica distancia-se da inovação, exceto pelo fato de ter seu uso e práticas como indicadores para o tráfego de capital financeiro. Nasceu, como veem, dentro do seio das instituições financeiras, natural que siga este caminho.
Embora o assunto tenha ganhado maior destaque nos últimos anos, a preocupação com questões ambientais, sociais e de governança não é nova em nossa sociedade. O conceito advém da ideia do tripé da sustentabilidade, formulado pelo sociólogo e consultor britânico, decano do movimento da sustentabilidade corporativa, John Elkington na década de 90, que propunha adicionar à ótica econômica de entendimento dos negócios também as dimensões ambientais e sociais.
Em uma linha reta, consideremos que o conceito ESG surgiu na década de 90 (portanto algo em torno de 30 anos), e o termo tem 17, como apontamos acima. Mas somente agora tem ganho notoriedade, como uma proposta “inovadora”, o que aparentemente, não é.
A sigla significa:
E de Environment,
S de Social e
G de governance,
Se preferir, Meio ambiente (Ou ambiental), social e governança, óbvio assim. E dentro de cada uma dessas letras cabe mais um bocado de coisa, dando a sigla uma dimensão (ou ideia de amplitude) maior, de relevância maior.
Dando sequência ao acordo proposto por Kofi Annan através do Pacto Global, empresas intensificam suas relações para que identifiquem como criar um mecanismo que vise o desenvolvimento sustentável de um mercado global justo e inclusivo.
Estudos da ONU apontam tendências e orientações de cunho financeiro para que as organizações se alinhem a ideia do “mercado global justo e inclusivo”. É como dissemos, uma ótica de capital, não humanista. A área Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP/FI – https://www.unepfi.org/) produziu o “Relatório Freshfield”, que demonstrou que as questões ESG são relevantes para a avaliação financeira.
Com a iniciativa de investidores da UNEP-FI e do Pacto Global (https://www.pactoglobal.org.br/pg/esg) da ONU, foram estruturados os Princípios para o Investimento Responsável (PRI), que conta com seis princípios e promove a integração do ESG na análise e tomada de decisões por meio de liderança inovadora e criação de ferramentas, orientação e engajamento.
Vamos hoje olhar para o S de social.
O “S” de social, pauta-se nos critérios acima expostos, e ampara o modelo de negócio cuja essência é o capitalismo de stakeholder, que prioriza todas as partes interessadas ao invés do lucro exclusivamente. Podemos entender também que em “S” cabem ações e conceitos diferentes e complementares, como a inclusão, diversidade e a responsabilidade social, atendida por eventuais ações de promovam maior mobilidade social, o que nunca aconteceu.
Minha preocupação neste sentido, e dando coerência ao título deste artigo, é a forma de se trilhar o caminho do ESG, uma vez que seus motivadores não o fazem necessariamente. Vejo aqui e ali ações superficiais que servem para o cumprimento de indicadores estabelecidos pelos organismos financeiros e com isso afastam-se cada vez mais do objetivo por eles anunciados. Na prática, você vê instituições que tem um débito gigante com o INSS por exemplo, promovendo ações de inclusão e diversidade, quando na realidade o que se vê na prática é uma casca dourada, um produto que se pretende atribuir mais valor à marca, ao produto, à empresa. E só. Cumpre-se cotas, colocam os segregados nos cantos escuros das salas, e cacarejam feito doidos. É importante sermos críticos com relação ao movimento, que sim, pode ser de extrema relevância na mudança de um cenário histórico, mas que deve ter maior aderência, flexibilidade e sobretudo ética e honestidade.
Ao ver as iniciativas que pipocam aqui e ali, confesso que fico feliz. Acho sim um caminho positivo e que nos mostra haver uma possibilidade de modificarmos algo ao nosso redor através de ações coletivas e da distribuição e aplicação do capital em canais que combatam seu acúmulo excessivo. Mas, sendo repetitivo, isso não pode ser uma moda, tampouco conteúdo para um marketing “estratégico”.
Talvez um grande benefício do ESG seja elucidar-nos sobre o entendimento de que estamos todos diante de uma sociedade que tem uma parte substancial avessa e resistente a perda de privilégios, e por outro lado – maior – que precisa efetivamente de um apoio e de oportunidades efetivas de mobilidade social. Eles / elas não são um troféu para a empresa usar. Pense nos anúncios que surgem ai berrando: “A primeira mulher negra em cargo de chefia…..” ou “O altista gerente” ou ainda “O cego que vê tudo”. Coisas assim estão acontecendo, e isso sim é lamentável.
Talvez os bancos pudessem iniciar este caminho, de uma forma diferente do que fazem agora.
Obrigado pela leitura!
Pingback: Brasil: País de primeiro mundo? - Roberto Carvalho
Interessante sua reflexão, ao mesmo tempo pertubadora. Será que a sociedade tem jeito? É importante adicionar que fora do Brasil a situação não é muito diferente. O capital e respectivo lucro continuam sendo a prioridade.