Fonte: https://ourworldindata.org/
Pode te parecer que este tema esteja muito distante do seu radar. Que bom! Entretanto, ainda que ele não faça parte de sua rotina profissional ou pessoal, ele está presente e nos rodeia, mesmo não nos dando conta, afinal uma das características de quem sofre com depressão é o silêncio. É preciso muito empatia, atenção e observação para que possamos identificar os sinais.
Se cabe a cada ser humano uma parcela de solidariedade, por que não para as empresas também? Não se trata de ser responsável pela cura deste ou daquele indivíduo, desta ou daquela comunidade. Nesse sentido, não há divisões, não há cargos, etnias, etarismo, raça, nada. É algo absolutamente democrático, pois envolve toda a sociedade, e as empresas, que tem uma razão social, podem exercer papel fundamental para auxílio no combate dos sintomas, pois como disse, eles existem, mesmo que não sejam publicados aos quatro cantos.
Modelos de gestão que estão sempre primando pelo “foco nos resultados” normalmente se esquecem da jornada. É nela, na jornada, que residem os efeitos dos relacionamentos cotidianos, em que as pressões contínuas e muitas vezes sem sentido se estabelecem e deixam suas marcas.
Evidentemente que os resultados financeiros são um grande desafio a ser perseguido e alcançado, mas a questão é: a que custo? Algumas indústrias se sobressaem por seus ambientes extremamente hostis, verdadeiras fábricas de doenças mentais. Acredito que essas se apoiam em uma lógica de mercado em que há (quase sempre) uma oferta de mão de obra maior que a demanda, dando assim margem para as constantes trocas de profissionais que esse mesmo ambiente hostil gera.
Em minha atividade de mentoria executiva, deparo-me com uma incômoda frequência pessoas que “não aguentam mais” seus ambientes de trabalho, a despeito de seus cargos, eventuais privilégios e salários. Nada paga o bem-estar delas, mas paradoxalmente curvam-se a esse sistema que os aniquila. Necessidade, falsa crença de que “não é bem assim” e que tudo é passageiro faz com que sigam até seus limites, quando então já pode ser tarde. Nessa trajetória, vamos dando “nomes” àquilo que nos intoxica, usando o vocabulário corporativo, em que mascaramos o que de fato acontece.
Fonte: https://ourworldindata.org/
O Brasil representa 42% do volume de pessoas com depressão dentro da região Latina e Caribenha. Não é pouca coisa. Ainda ocupamos o 23º lugar nos países com maior índice de suicídio, conforme relato da OMS em 2019 (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pa%C3%ADses_por_taxa_de_suic%C3%ADdio#:~:text=O%20estado%20mais%20suicida%20em,Mediterr%C3%A2neo%20Oriental%20%C3%A9%20a%20menos.
Diante desse quadro, sempre me pergunto aonde fica a dificuldade em sairmos dos discursos e irmos para as práticas efetivamente humanizadas? Seria um devaneio pensar na lógica do alcance do resultado através de jornadas mais acolhedoras, ou seria isso mais uma falácia, mais um mito? Em vários momentos em que me deparo com esse dilema, concluo que a dificuldade está em nosso repertório histórico, cultural, e em nosso conjunto de valores, que faz com que propaguemos práticas avassaladoras, deixando para o próximo o contorno das situações indesejadas criadas por nós mesmos. É preciso autoconhecimento, coragem e senso de responsabilidade sobre essa temática. Os resultados virão, mais e melhores!
E voce, o que pensa disso?