Pandemia: O que você tem feito com ela?

É bom ter amigos. Especialmente amigos cultos e generosos que compartilham com a gente conteúdos bacanas. Foi o que aconteceu comigo, e que me motivou a escrever esse artigo.

Esse meu amigo, executivo experiente, com larga vivência internacional atua, de lá dos EUA, com a América Latina. E hoje a conversa nossa foi sobre como nós latinos estamos de certa forma divididos entre dois medos: O que congela e o que impulsiona. Na verdade, não são dois medos, ponderei. São duas formas de se perceber o mesmo problema, que é a pandemia.

Antes de mais nada, importantíssimo ressaltar que em momento algum passa pela minha cabeça menosprezar o que está acontecendo, tampouco desrespeitar aqueles que por este motivo perderam parentes e que estejam em uma condição individual pior que a de muitos. Mas aqui falamos do contexto de um continente, comparado a outros. Portanto, estamos tratando de uma amostragem substancialmente importante, que reflete a cultura de milhões de pessoas, ok?

Voltando: Dentro do contexto colocado, podemos entender de que a pandemia seja a mesma. Ok, ela não é a mesma (talvez, confesso minha ignorância) em São Paulo e em Manaus, dadas as características de cada local. Mas mesmo assim, é o tal do Covid-19. E ela é democrática: Vale para o mundo todo: Impacta na saúde – mental inclusive -, economia, segurança, educação, perspectivas, esperanças….e tem sido revestida das tais políticas.

Mas, conforme o relato deste meu amigo – a quem dedico este artigo – algumas empresas (e seus gestores, claro) estão absolutamente refratarias ao movimento de seus negócios. Congelaram, não se adaptam ao momento, não veem esperança e tampouco sabem o que fazer, estão congelados a se propõem a continuamente se lamentar e esperar para que “isso passe”.

Com isso, empregos se vão, sistema de saúde pública agrava ainda mais, previdência treme na base, começamos a ver cada vez mais as pessoas surtando (literalmente) nas ruas, e cada vez mais jovens. A coisa e feia.

Nas abordagens deste meu amigo, essas empresas, de forma muito consistente, alegaram-lhe de que este não seria o melhor momento para discutirem oportunidades de negócio. “Vamos esperar”

Por outro lado, há aqueles que adotam postura 100% inversa, e que entendem que – apesar da tristeza e de todos os dissabores da pandemia – a vida precisa continuar, e sim, é possível mesmo com o Covid. Entendem que as oportunidades surgem na crise, que muitas delas são deixadas justamente pela turma que decide esperar, e assumem o controle da situação, ocupando espaços que foram deixados em branco, reinventam-se, inovam e se posicionam de maneira protagonista frente a situação.

Agora pense: A vida de um executivo, empresário, gestor não foi de certa forma sempre assim? O que mudou, afinal? Por qual motivo uma parte substancial adota a espera da solução, transfere para o outro (que pode ser o governo, o sindicato, Deus…) a transposição de uma dificuldade enquanto a outra parte arregaça as mangas e vai pra frente?

De certo há uma quantidade expressiva de motivos que podem justificar um ou outro caminho, mas atrevo-me a destacar alguns, que a meu ver podem ser considerados como comuns a essas situações:

  1. Aspectos culturais:
    1. A forma como enxergamos o mundo a nossa volta, e como reagimos a ele
    2. A forma como nos enxergamos, os limites que nos impomos;
    3. Nosso modelo educacional, resultante da revolução industrial;
  2. Aspectos midiáticos
    1. Intenções e tendências das mídias, sua influência na percepção da realidade;
    1. A “tradução” da realidade entregue pela mídia para as populações;
  3. Aspectos políticos e sociais
    1. Momento político de cada local: Época de eleição se aproximando, falta de fatos concretos e positivos para pautar as intervenções e ações da camada política de cada região;
    1. O óbvio interesse em se capitalizar em cima da escassez, ato comum e histórico na América Latina;
    1. A manutenção e o fomento da dependência coletiva sobre o poder público;
    1. Religião como instrumento de amparo e “acalanto” às massas, que se curvam diante das diretrizes traçadas pelos oportunistas de plantão, que reforçam a mesma dependência coletiva, com o uso massivo da idéia da escassez;
    1. Efeito dominó: As ações acima provocam uma avalanche de credos que acabam por se concretizar através de comportamentos como os descritos acima.

Por fim, penso que talvez seja possível, senão mandatário, adotarmos uma postura mais ativa em nosso cotidiano, seja no corporativo, seja no âmbito pessoal. Não iremos, individualmente, resolver a pandemia, mas podemos, coletivamente, criar mecanismos e instrumentos de superação que alcancem as dimensões de saúde (mental inclusive, repito) econômica e social, de maneira que sejamos de fato protagonistas de nossa história.

Da mesma maneira que este cenário e relato apontam que para uma mesma situação podemos criar diferentes verdades, o mesmo fenômeno aplica-se a este conteúdo, que não tem a pretensão de ser a expressão única de um caminho, mas sim um ponto de provocação a reflexão de todos nós.

Os políticos que venham atrás.

Obrigado por sua leitura. Comente, participe!

Este post tem um comentário

  1. Elisa Prospero

    Ótima reflexão, Roberto! Um abraço.

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