Layoff invertido: Os modelos ainda não deram certo.

Talvez você se recorde da época da bolha da internet, no final dos anos 90 e início de 2000. Motivada pela alta especulação financeira, muitas empresas receberam investimentos massivos de capital de risco e de investidores interessados em aproveitar o momento de crescimento e euforia, que acabou em pouco tempo mostrando sua realidade, e com isso muitos perderam emprego e dinheiro, e uma onda de frustração e preocupação elevadas tomaram conta do mercado, que se mostrou incompetente e assustado com o que ele próprio criou.

Oportunismo é sim uma (boa) característica de quem investe, sem dúvida alguma. Saber “cheirar” oportunidades é uma combinação de talento, acesso a informações, e sobretudo a competência de fazer análises e projeções, que aliados ao bom atrevimento e a uma pouca dose de sorte podem trazer excelentes resultados.

Entretanto, ainda permanecem visíveis a busca pelos ganhos de curto prazo, com elevadas taxas de retorno financeiro (sempre em companhia das elevadas taxas de risco) nos modelos de gestão, que combinados a morosidade das empresas em responder a um mercado cada vez mais ágil, impulsionado especialmente por conta da tecnologia, acabam por amargurar hiatos entre a cadência das mudanças impostas pelos estímulos externos e as mudanças necessárias em suas estruturas organizacionais. Em outras palavras, não se consegue responder com a mesma agilidade.

Se por um lado temos esse fenômeno de empresas que nascem, crescem (ou incham) e depois encolhem a taxas acentuadas, por outro temos o elemento humano no meio disso tudo.

Paradoxalmente, em algumas empresas tidas como modelo, percebo um movimento que aqui chamo de “layoff invertido”, ou seja, a saída espontânea e massiva dos colaboradores do quadro dessas empresas, pois já não suportam a dissonância cognitiva, a demasiada pressão a que são submetidos, a falta de uma perspectiva de médio e longo prazo. A conta não fecha.

Quando discurso e práticas não se encontram, perde-se a legitimidade na gestão. A isso classifiquei como dissonância cognitiva, ou como preferem os modernos, a inexistência do famoso “Walk the talk”.

Este cenário – ciclico, eu diria – nos traz reflexões e imposições importantes sobre nosso modelo de gestão, mas principalmente sobre o protagonismo em nossas carreiras, em continuarmos na busca incessante e contínua de novos saberes, na aquisição de novas competências e desenvolvimento de novas habilidades, o que inclui a todos, evidentemente.

Processos de desligamento são onerosos em vários aspectos. Nossa legislação trabalhista (para aqueles que a seguem), criada em 1943 e que passou por uma revisão em 2017, traz um custo alto para a organização e já não acomoda mais as demandas para as quais ela foi criada.

Penso ser ingênuo acreditar que os movimentos internos de uma organização, como o “layoff invertido”, fiquem restrito ao mundo interno. As redes sociais estão ai, servem como plataformas para depoimentos individuais e por vezes corroborados por vários colegas, e que mostram uma verdade quase sempre mascarada e protegida pelas boas estratégias de comunicação corporativa, que também precisa se reinventar, e logo.

Não são apenas as empresas que estão renunciando às pessoas. Elas começam a fazer o mesmo!

Obrigado pela leitura

Veja mais em https://robertocarvalho.net/layoff-e-para-voce-tambem/

Deixe um comentário