O cérebro humano tem duas idiossincrasias neurológicas que nos permitem confiar e colaborar com pessoas fora do nosso grupo social imediato (algo que nenhum outro animal é capaz de fazer). O primeiro envolve nosso córtex hipertrofiado, a superfície externa do cérebro, onde ocorrem, em grande parte, a percepção, o planejamento e o pensamento abstrato. Partes do córtex nos permitem realizar um truque incrível: nos transportar para a mente de outra pessoa. Chamada de teoria da mente pelos psicólogos, ele essencialmente representa nossa capacidade de pensar: “Se eu fosse ela, faria isso”. Ele nos permite prever as ações dos outros para que possamos coordenar nosso comportamento com os deles.
A segunda idiossincrasia é a empatia, nossa capacidade de partilhar das emoções das pessoas. Numerosas pesquisas, inicialmente realizadas em meu laboratório e replicadas em outros lugares, demonstra que a empatia aumenta quando o cérebro libera a ocitocina neuroquímica. Os seres humanos têm uma alta densidade de receptores de oxitocina no córtex frontal – mais alta do que qualquer outro animal –, o que significa que nossa natureza social está anatomicamente inscrita em nosso cérebro. Consequentemente, absorvemos informações sociais e entendemos as motivações dos outros com uma facilidade inconsciente.
A ocitocina produz outros dois efeitos primários nos seres humanos. O primeiro é a redução da ansiedade que sentimos naturalmente quando estamos junto de outras pessoas. O segundo efeito é a motivação para a cooperação e ajuda mútua. Isso ocorre porque a ocitocina também modula a dopamina, a substância química de reforço do cérebro que diz: “Faça mais disso”. A dopamina produz uma sensação de bem-estar quando colaboramos e nos conectamos com os outros, o que significa que gostar de trabalhar em conjunto decorreu da nossa evolução.
Para confiarmos em alguém, especialmente alguém que não conhecemos, nosso cérebro constrói um modelo das prováveis ações e motivações de uma pessoa. Em outras palavras, em todo esforço colaborativo utilizamos tanto a teoria da mente quanto a empatia, e a outra pessoa percorre o mesmo caminho, intuitivamente. Isso significa que os seres humanos estão constantemente envolvidos em um jogo de confiança bilateral: Eu deveria confiar em você? e quanta confiança você deposita em mim?
No trabalho, o jogo da confiança tem um fator adicional, que é o exemplo atribuído pelos líderes. Como criaturas sociais, nós naturalmente seguimos líderes e baseamos nosso comportamento no deles. A influência que eles exercem significa que eles podem facilmente sabotar a confiança de duas maneiras primordiais: alimentando o medo e exercendo a dominação.
Obrigado por sua leitura!
Texto original de: Paul J. Zak, diretor fundador do Center for Neuroeconomics Studies e professor de economia, psicologia e administração na Claremont Graduate University além de CEO da Immersion Neuroscience. É autor do livro Trust Factor: The Science of Creating High-Performance Companies.